Como sempre ocorre na virada do primeiro semestre, o IBGE trouxe a público os
resultados da PIA- Pesquisa Industrial Anual- de 2011. Nunca é demais insistir que a
PIA é a série estatística mais apropriada para embasar as análises estruturais sobre a
indústria. No entanto, a sua interpretação requer um extenso trabalho de tratamento do
enorme volume de informações contido na pesquisa. A principal dificuldade, como
sempre, é a disponibilidade de bons deflatores setoriais que propiciem a necessária
confiabilidade aos cálculos das taxas de crescimento em relação a anos anteriores de
variáveis monetárias como o valor da produção, os salários pagos ou a produtividade.
Na ausência desses deflatores não há ainda como '''''encadear os números da PIA 2011
com as anteriores com vistas a estabelecer comparações intertemporais dos seus
resultados. Com isso, as primeiras análises são forçadas a se restringir ao exame tão
somente dos indicadores de composição ou de participação. Os dados que se seguem
são referentes a PIA atividade, para empresas industriais com 5 ou mais empregados e
referem-se, quando não assinalado, à indústria geral (extrativa e de transformação).
A despeito da desaceleração experimentada pela economia brasileira em 2011, a
indústria manteve um excelente desempenho em termos da geração de empregos. O ano
fechou com 8,14 milhões de pessoas ocupadas na indústria, contingente 11% superior
ao do final de 2010. Em relação a 2007, foram absorvidos mais de 1,15 milhão de novos
trabalhadores industriais, números que confirmam o verdadeiro enigma que vem
caracterizando a evolução do mercado de trabalho brasileiro. Em termos da composição
setorial, esses trabalhadores se concentram nas indústrias tradicionais, como alimentos,
têxtil e vestuário, que em 2011 responderam por 62% dos postos de trabalho. Além
desses, cerca de 20% trabalham nas indústrias de maior conteúdo tecnológico enquanto
os demais 18% são contratados pelas indústrias extrativa e de produção de commodities.
É interessante registrar que esses números são praticamente os mesmos de 2007,
indicando que a rigidez estrutural que acompanha a indústria brasileira há longo tempo
não sofreu qualquer modificação em 2011.
A situação da distribuição espacial da atividade industrial é distinta. Em 2011 mantevese a tendência de suave desconcentração regional, que vem se manifestando desde a
década de 1990. Na ótica do emprego, as regiões Centro-Oeste e Nordeste absorveram
nesse ano 5,4% e 13,3% dos empregos industriais (ante 5,2% e 13,2% em 2010 e 4,8%
e 12,7% em 2007. Já a região Sudeste reteve 52,8% do trabalho na indústria (ante
53,2% em 2010 e 53,7% em 2007). Em termos de valor adicionado, a tendência de
desconcentração industrial persiste mas o mapa é um pouco diferente: as regiões que
avançam são Centro-Oeste e Norte, refletindo as produtividades mais elevadas do
agronegócio e da eletro-eletrônica, respectivamente, seus setores de especialização.
Uma outra tendência de longa data que foi igualmente ratificada pelos dados da última
PIA é a da perda de peso na estrutura industrial brasileira do segmento de médias
empresas (faixa de empresas com 100 a 500 empregados). Em relação a 2007, as
empresas dessa faixa geraram 234 mil novos postos de trabalho, bem menos que os 481
mil ou os 442 mil gerados pelas demais faixas de tamanho. Em 2011, o pessoal ocupado
em empresas médias foi de apenas 26% do total. O cálculo do valor adicionado por
trabalhador mostra que a faixa de empresas de tamanho médio voltou a apresentar em
2011 uma produtividade aparente inferior à da média da indústria, fato que havia
ocorrido pela primeira vez em 2010. Dada a importância desse conjunto de empresas
para o desenvolvimento industrial, os fatores condicionantes do seu pior desempenho
necessitam ser mais bem compreendidos.
Indícios sobre a evolução da produtividade surgem da comparação do desempenho dos
diversos setores com os valores médios da indústria. Verifica-se um aumento da
dispersão dos indicadores, com um crescimento extremamente pronunciado da
produtividade da indústria extrativa (especialmente petróleo e gás) e redução das
demais. A produtividade dos segmentos de commodities, que era exatamente o dobro da
média da indústria em 2007 caiu para 1,6 vezes, provavelmente refletindo a acumulação
de capacidade ociosa e também a queda dos preços internacionais desses bens. Já o
valor adicionado por pessoa ocupada nos setores de maior conteúdo tecnológico está
convergindo para a média da indústria, em um movimento no mínimo surpreendente,
pois espera-se que essas indústrias constituam o carro-chefe da expansão da
produtividade. O aumento da importação de insumos, peças e componentes pode estar
na raiz desse resultado.
Por fim, as análises das estruturas de custos sugerem que em 2011 o quadro foi de
estabilidade. De um lado, a trajetória de encarecimento do trabalho estacionou. Após
atingir um pico de 23,6% em 2009, o peso dos salários pagos no valor da transformação
industrial recuou para 22,5%, repetindo praticamente o índice de 2010. O mesmo
comportamento, mas com o sinal invertido, ocorreu com a participação do custo das
operações industriais no valor da produção. O indicador, que vinha recuando desde
2007, estabilizou-se na casa de 54% em 2011. A estabilidade das estruturas de custos
revelou-se bastante geral, tendo ocorrido em quase todos os setores e regiões.
AUTOR:DAVID KUPFER
AUTOR:DAVID KUPFER
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