quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A INDÚSTRIA SEGUNDO A PIA/IBGE 2011

Como sempre ocorre na virada do primeiro semestre, o IBGE trouxe a público os 
resultados da PIA- Pesquisa Industrial Anual- de 2011. Nunca é demais insistir que a 
PIA é a série estatística mais apropriada para embasar as análises estruturais sobre a 
indústria. No entanto, a sua interpretação requer um extenso trabalho de tratamento do 
enorme volume de informações contido na pesquisa. A principal dificuldade, como 
sempre, é a disponibilidade de bons deflatores setoriais que propiciem a necessária 
confiabilidade aos cálculos das taxas de crescimento em relação a anos anteriores de 
variáveis monetárias como o valor da produção, os salários pagos ou a produtividade. 
Na ausência desses deflatores não há ainda como '''''encadear os números da PIA 2011 
com as anteriores com vistas a estabelecer comparações intertemporais dos seus 
resultados. Com isso, as primeiras análises são forçadas a se restringir ao exame tão 
somente dos indicadores de composição ou de participação. Os dados que se seguem 
são referentes a PIA atividade, para empresas industriais com 5 ou mais empregados e 
referem-se, quando não assinalado, à indústria geral (extrativa e de transformação).

A despeito da desaceleração experimentada pela economia brasileira em 2011, a 
indústria manteve um excelente desempenho em termos da geração de empregos. O ano 
fechou com 8,14 milhões de pessoas ocupadas na indústria, contingente 11% superior 
ao do final de 2010. Em relação a 2007, foram absorvidos mais de 1,15 milhão de novos 
trabalhadores industriais, números que confirmam o verdadeiro enigma que vem 
caracterizando a evolução do mercado de trabalho brasileiro. Em termos da composição 
setorial, esses trabalhadores se concentram nas indústrias tradicionais, como alimentos, 
têxtil e vestuário, que em 2011 responderam por 62% dos postos de trabalho. Além 
desses, cerca de 20% trabalham nas indústrias de maior conteúdo tecnológico enquanto 
os demais 18% são contratados pelas indústrias extrativa e de produção de commodities. 
É interessante registrar que esses números são praticamente os mesmos de 2007, 
indicando que a rigidez estrutural que acompanha a indústria brasileira há longo tempo 
não sofreu qualquer modificação em 2011.

A situação da distribuição espacial da atividade industrial é distinta. Em 2011 mantevese a tendência de suave desconcentração regional, que vem se manifestando desde a 
década de 1990. Na ótica do emprego, as regiões Centro-Oeste e Nordeste absorveram 
nesse ano 5,4% e 13,3% dos empregos industriais (ante 5,2% e 13,2% em 2010 e 4,8% 
e 12,7% em 2007. Já a região Sudeste reteve 52,8% do trabalho na indústria (ante 
53,2% em 2010 e 53,7% em 2007). Em termos de valor adicionado, a tendência de 
desconcentração industrial persiste mas o mapa é um pouco diferente: as regiões que 
avançam são Centro-Oeste e Norte, refletindo as produtividades mais elevadas do 
agronegócio e da eletro-eletrônica, respectivamente, seus setores de especialização.

Uma outra tendência de longa data que foi igualmente ratificada pelos dados da última 
PIA é a da perda de peso na estrutura industrial brasileira do segmento de médias 
empresas (faixa de empresas com 100 a 500 empregados). Em relação a 2007, as 
empresas dessa faixa geraram 234 mil novos postos de trabalho, bem menos que os 481 
mil ou os 442 mil gerados pelas demais faixas de tamanho. Em 2011, o pessoal ocupado 
em empresas médias foi de apenas 26% do total. O cálculo do valor adicionado por 
trabalhador mostra que a faixa de empresas de tamanho médio voltou a apresentar em 
2011 uma produtividade aparente inferior à da média da indústria, fato que havia 
ocorrido pela primeira vez em 2010. Dada a importância desse conjunto de empresas 
para o desenvolvimento industrial, os fatores condicionantes do seu pior desempenho 
necessitam ser mais bem compreendidos.

Indícios sobre a evolução da produtividade surgem da comparação do desempenho dos 
diversos setores com os valores médios da indústria. Verifica-se um aumento da 
dispersão dos indicadores, com um crescimento extremamente pronunciado da 
produtividade da indústria extrativa (especialmente petróleo e gás) e redução das 
demais. A produtividade dos segmentos de commodities, que era exatamente o dobro da 
média da indústria em 2007 caiu para 1,6 vezes, provavelmente refletindo a acumulação 
de capacidade ociosa e também a queda dos preços internacionais desses bens. Já o 
valor adicionado por pessoa ocupada nos setores de maior conteúdo tecnológico está 
convergindo para a média da indústria, em um movimento no mínimo surpreendente, 
pois espera-se que essas indústrias constituam o carro-chefe da expansão da 
produtividade. O aumento da importação de insumos, peças e componentes pode estar 
na raiz desse resultado.

Por fim, as análises das estruturas de custos sugerem que em 2011 o quadro foi de 
estabilidade. De um lado, a trajetória de encarecimento do trabalho estacionou. Após 
atingir um pico de 23,6% em 2009, o peso dos salários pagos no valor da transformação 
industrial recuou para 22,5%, repetindo praticamente o índice de 2010. O mesmo 
comportamento, mas com o sinal invertido, ocorreu com a participação do custo das 
operações industriais no valor da produção. O indicador, que vinha recuando desde 
2007, estabilizou-se na casa de 54% em 2011. A estabilidade das estruturas de custos 
revelou-se bastante geral, tendo ocorrido em quase todos os setores e regiões.

AUTOR:DAVID KUPFER


sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Discurso do presidente Alexandre Tombini na 2ª Edição do Encontros EXAME

- Perspectivas para a economia internacional
- Economia brasileira - perspectivas


Política Monetária e Operações de Crédito do SFN

I - Operações de crédito do sistema financeiro


O estoque total das operações de crédito do sistema financeiro, que inclui recursos livres e direcionados, atingiu R$2.531 bilhões em junho, com expansões de 1,8% no mês e 16,4% em doze meses. Nas mesmas bases de comparação, o resultado refletiu aumentos de 2,9% e 26,6% nas carteiras com recursos direcionados e de 0,9% e 9,7% nas operações com recursos livres. O saldo dos empréstimos a pessoas físicas totalizou R$1.157 bilhões, avançando 1,4% e 16,4% e o referente a pessoas jurídicas, R$1.374 bilhões, após incrementos de 2,1% e 16,3%, nas mesmas bases comparativas. Em consequência, a relação crédito/ PIB passou a representar 55,2%, ante 54,7% em maio último e 50,9% em junho de 2012.
As concessões de crédito com recursos livres e direcionados alcançaram R$302 bilhões em junho, após redução mensal de 3,8%, resultante da queda de 8% nas contratações do crédito livre e da elevação de 22% no crédito direcionado. Os desembolsos a pessoas físicas recuaram 5,2% no mês, ao atingirem R$142 bilhões, com ênfase para retrações nas modalidades cheque especial, crédito pessoal e aquisição de veículos. No tocante a pessoas jurídicas, as novas contratações pelas empresas decresceram 2,5% no mês, ao somarem R$160 bilhões, assinalando-se reduções nos empréstimos de capital de giro com prazo acima de 365 dias e em conta garantida.
O saldo de crédito com recursos livres cresceu 0,9% no mês, ao totalizar R$1.446 bilhões (31,6% do PIB) em junho, equivalendo a 57,1% da carteira total do sistema financeiro. Esse resultado refletiu as expansões de 0,2% nos empréstimos a pessoas físicas, saldo de R$715 bilhões, e de 1,7% nos destinados a pessoas jurídicas, que somaram R$730 bilhões. No tocante às famílias, os aumentos mais relevantes foram verificados nos saldos de crédito consignado e cartão de crédito rotativo, enquanto no segmento corporativo, sobressaíram o desconto de duplicatas, os repasses externos e o capital de giro com teto rotativo.
I.1 - Taxas de juros e inadimplência

A taxa média geral de juros do crédito do sistema financeiro, incluindo as operações com recursos livres e direcionados, alcançou 18,5% em junho, com alta de 0,4 p.p. no mês e redução de 1,6 p.p. nos últimos doze meses. A variação mensal refletiu a elevação de 0,7 p.p. na taxa referente ao crédito livre e de 0,2 p.p. nas operações com recursos direcionados, ao passo que, na comparação anual, ocorreram reduções respectivas de 0,6 p.p. e de 1,5 p.p.
Nas operações destinadas a pessoas físicas, a taxa média atingiu 24,3%, após aumento de 0,3 p.p. no mês, determinado pelo aumento de 0,7 p.p. no custo médio do crédito livre, notadamente em crédito pessoal não consignado e crédito renegociado. Nas operações com recursos direcionados, a taxa permaneceu inalterada em 6,7% a.a.
Nos créditos às empresas, a taxa média de juros situou-se em 14%, após elevação mensal de 0,5 p.p. Nas operações com recursos livres, a taxa subiu 0,8 p.p., atingindo 19,3%, destacando-se elevações em capital de giro e financiamento a exportações. No segmento direcionado, o aumento de 0,4 p.p, para 7,4%, refletiu a alta nas taxas médias relativas aos financiamentos com recursos do BNDES.
spread bancário geral das operações de crédito do sistema financeiro recuou 0,4 p.p., situando-se em 10,9 p.p em junho, menor patamar da série iniciada em março de 2011. A redução refletiu a elevação do custo de captação em percentual superior à elevação das taxas de aplicação e resultou do recuo de 0,5 p.p. no indicadorrelativo ao crédito livre, que alcançou 16,7 p.p., e da elevação de 0,1 p.p. no spread relativo aos créditos direcionados, situado em 2,6 p.p.

II - Evolução dos agregados monetários

O saldo médio diário da base monetária atingiu R$204,2 bilhões em junho, após recuo de 1,8% no mês e elevação de 6% em doze meses. O comportamento mensal do agregado resultou de declínio de 12,5% nas reservas bancárias e aumento de 0,9% no papel-moeda emitido.
Entre os fluxos mensais dos fatores condicionantes da emissão monetária, sobressaíram as operações com títulos públicos federais, que incluem a atuação do Banco Central no ajuste da liquidez do mercado monetário, ao registrarem expansão de R$29,2 bilhões. O impacto de títulos públicos decorreu de compras líquidas de R$51,8 bilhões no mercado secundário e de colocações líquidas de R$22,6 bilhões, no mercado primário. Em sentido inverso, as operações do Tesouro Nacional foram contracionistas em R$5,8 bilhões, os depósitos de instituições financeiras, que incluem os fluxos mensais de recolhimentos compulsórios, em R$5,4 bilhões, assim como as vendas líquidas de divisas no mercado interbancário, que atingiram R$3,7 bilhões.
Os meios de pagamento restritos (M1) registraram saldo médio diário de R$296,2 bilhões em junho, após crescimento de 1,9% no mês resultante dos aumentos de 2,9% nos depósitos à vista e de 0,9% no papel-moeda em poder do público. A expansão acumulada do M1 em doze meses alcançou 12,7%.
O saldo dos meios de pagamento no conceito M2, que corresponde ao M1 mais depósitos de poupança e títulos privados, cresceu 1,6% em junho, atingindo R$1,8 trilhão. Esse resultado refletiu, sobretudo, a elevação de 2,6% registrada no M1 e de 2% nos depósitos de poupança. O saldo dos títulos privados alcançou R$968,1 bilhões e o dos depósitos de poupança, R$538,4 bilhões, após captações líquidas respectivas de R$5,7 bilhões e de R$9,5 bilhões.


Fonte: Banco Central do Brasil

POLÍTICA FISCAL

I - Resultados fiscais
superavit primário do setor público consolidado alcançou R$5,4 bilhões em junho. O Governo Central registrou superavit de R$1,4 bilhão; os governos regionais,superavit de R$3,2 bilhões; e as empresas estatais, superavit de R$836 milhões.
No ano, o superavit primário acumulado alcançou R$52,2 bilhões, comparativamente a R$65,7 bilhões no mesmo período do ano anterior. No acumulado em doze meses, o superavit alcançou R$91,5 bilhões, 2% do PIB, comparativamente a R$88,8 bilhões, 1,95% do PIB, em maio.
Os juros nominais, apropriados por competência, alcançaram R$17,6 bilhões em junho, comparativamente a R$20,2 bilhões em maio. O menor número de dias úteis contribuiu para essa queda. No ano, os juros nominais acumulam R$118,1 bilhões, 5,10% do PIB, 0,1 p.p. inferior ao registrado no mesmo período de 2012. No acumulado em doze meses, os juros nominais alcançaram R$220,9 bilhões, 4,82% do PIB, mantendo-se estável, como proporção do PIB, em relação ao observado nos meses anteriores.
O resultado nominal, que inclui o superavit primário e os juros nominais apropriados, foi deficitário em R$12,2 bilhões em junho. No ano, o deficit nominal alcançou R$65,9 bilhões, elevando-se R$20,6 bilhões em relação ao mesmo período de 2012. Em doze meses, o deficit nominal atingiu R$129,5 bilhões, 2,83% do PIB, comparativamente a R$130,6 bilhões, 2,87% do PIB, observado em maio.
deficit nominal do mês foi financiado com expansões de R$4,7 bilhões na dívida mobiliária e de R$14,3 bilhões nas demais fontes de financiamento interno, que incluem a base monetária, contrabalançadas, parcialmente, pelas reduções de R$6,6 bilhões nos financiamentos externos líquidos e de R$242 milhões na dívida bancária líquida.

II - Dívida mobiliária federal
A dívida mobiliária federal, fora do Banco Central, avaliada pela posição de carteira, totalizou R$1.894,7 bilhões (41,3% do PIB) em junho, registrando acréscimo de R$54,1 bilhões em relação ao mês anterior. O resultado refletiu emissões líquidas de R$39 bilhões, acréscimo de R$0,4 bilhão em razão da depreciação cambial e incorporação de juros de R$14,7 bilhões.
Destacaram-se as emissões líquidas de R$26,9 bilhões em LTN; de R$8,3 bilhões em LFT; de R$3,4 bilhões em NTN-F; e de R$1 bilhão em NTN-B.
A participação por indexador registrou a seguinte evolução, em relação a maio: a porcentagem dos títulos indexados a câmbio permaneceu em 0,5%; a dos títulos vinculados à taxa Selic passou de 16% para 16,4%, devido a emissões de LFT; a dos títulos prefixados elevou-se de 29,4% para 30,8%, em função das emissões líquidas de LTN; e a dos indexados a índices de preços passou de 26,5% para 26,7%, devido às emissões líquidas de NTN-B. A participação das operações compromissadas passou de 27,2% para 25,2%, em razão de compras líquidas de R$51,9 bilhões.


III - Dívida líquida do setor público
A dívida líquida do setor público (DLSP) atingiu R$1.580,3 bilhões em junho, 34,5% do PIB, reduzindo-se 0,3 p.p. em relação ao mês anterior. A depreciação cambial de 3,9% no mês foi o principal fator determinante dessa trajetória, respondendo por redução equivalente a R$26,7 bilhões no estoque da DLSP.
No ano, a relação DLSP/PIB registrou redução equivalente a 0,7 p.p. Contribuíram para essa redução o superavit primário, com 1,1 p.p.; o crescimento do PIB corrente, 1,4 p.p.; e a desvalorização cambial de 8,4% acumulada no ano, com 1,2 p.p. Em sentido contrário, os juros nominais apropriados contribuíram para elevar a relação em 2,6 p.p., e o ajuste de paridade da cesta de moedas que compõe a dívida externa líquida respondeu por elevação 0,4 p.p.

A Dívida Bruta do Governo Geral (Governo Federal, INSS, governos estaduais e governos municipais) alcançou em junho R$2.715,9 bilhões, 59,3% do PIB, reduzindo-se 0,3 p.p. do PIB em relação ao mês anterior.
Fonte: Banco Central do Brasil.

Discurso do Presidente do Banco Central Alexandre Tombini no VIII Seminário Anual sobre Riscos, Estabilidade Financeira e Economia Bancária


O Sistema Financeiro Nacional passou por profundas transformações nos últimos anos, em praticamente todas as suas dimensões, com o crescimento estrutural do crédito e da inclusão financeira. Essa transformação ocorreu graças à manutenção da estabilidade macroeconômica, ao contínuo processo de aperfeiçoamento da regulação  e da supervisão e à tempestividade das ações para o fortalecimento da estabilidade  financeira. Mantivemos a solidez de nosso sistema financeiro, mesmo num período complexo e turbulento por que passaram a economia e o sistema financeiro global.
Esse período turbulento trouxe desafios para os reguladores e supervisores. No Brasil não foi diferente, mas soubemos nos preparar para enfrentar esses desafios. Primeiro. Promovemos aperfeiçoamentos significativos nos sistemas de registro e de  liquidação: ampliamos a central de risco de crédito (SCR); reforçamos a regulamentação dos registros privados; exigimos mais qualidade e tempestividade das informações; e incentivamos o mercado a criar outros sistemas de registro, como a Central de Exposição de Derivativos (CED) e a Central de Cessão de Crédito (C3).
O Brasil tem hoje uma capacidade diferenciada de monitoramento do nosso sistema financeiro devido à obrigatoriedade de declaração e registro de todas as operações  financeiras de crédito e de derivativos em sistemas de registro. Com esses aperfeiçoamentos, o Banco Central do Brasil ampliou ainda mais o espectro de informações a que tem acesso, permitindo, à supervisão, o monitoramento praticamente em tempo real de todas as operações, emissões, carteiras e exposições dos bancos. Além disso, aperfeiçoamos e criamos ferramentas poderosas para monitorar e detectar inconsistências nas informações prestadas ao Banco Central.
Ressalte-se que, desde antes da crise financeira de 2008, o Brasil já possuía um sistema de monitoramento muito bom. Hoje posso afirmar que temos um sistema praticamente único entre os supervisores financeiros internacionais.
Segundo. Promovemos muitos aperfeiçoamentos no marco prudencial e regulatório, bem como nas práticas de supervisão dos bancos.
Reorganizamos e ampliamos o escopo de atuação da supervisão. Introduzimos
diretrizes e instrumentos mais modernos e eficazes e aperfeiçoamos as práticas da supervisão. Constituímos o Comitê de Estabilidade Financeira (Comef).Criamos, no Banco Central, uma unidade responsável pela supervisão da conduta do sistema financeiro, cuja atuação é centrada na observância de normas e regulamentos.Terceiro. Conduzimos um processo abrangente de supervisão para mitigar vulnerabilidades do sistema financeiro.
Partimos de um diagnóstico robusto, contemplando desde aspectos relacionados à integridade de dados e sistemas a aspectos relacionados à viabilidade dos negócios.
Os focos de vulnerabilidades foram mapeados.Formulamos um plano de ação minucioso, com o objetivo de eliminar essas vulnerabilidades. E, acima de tudo, assegurar o bom funcionamento do sistema. Executamos o plano com serenidade, foco e objetividade. O plano alcançou seus objetivos: vulnerabilidades foram corrigidas ou eliminadas, mantendo o funcionamento regular do sistema financeiro.
Enfim, trata-se de um processo bem sucedido, conduzido com muita tranquilidade; mas com muito rigor. As lições foram aprendidas e incorporadas às práticas da área de regimes especiais, ao anteprojeto de Lei de Resolução Bancária e ao novo regulamento para o funcionamento de comissões de inquéritos recentemente publicados.
Por fim, em quarto lugar, adotamos medidas macroprudenciais para moderar a tomada excessiva de riscos nas operações de crédito ao consumo, no ingresso intenso e vultoso de capitais internacionais voláteis e nas exposições em derivativos cambiais.
Todos esses movimentos, de forma isolada ou combinada, ameaçavam a estabilidade da economia e a do próprio sistema financeiro. As medidas macroprudenciais contribuíram para manter o bom funcionamento dos
nossos mercados em um ambiente de expansão da liquidez internacional e de intenso fluxo de capitais, principalmente para as economias emergentes. Mesmo diante de uma ampla liquidez internacional, o fluxo de capital volátil para o Brasil moderou-se; os prazos ampliaram-se e a natureza do capital melhorou de qualidade, compondo-se, já há algum tempo, majoritariamente de investimento estrangeiro direto.
Conforme tenho alertado, os atuais níveis globais de liquidez e de taxas de juros fazem parte de circunstâncias muito especiais, que tendem a desaparecer em algum momento.
Há claros sinais de que o processo de normalização das condições monetárias nos Estados Unidos já se iniciou. Com isso, a perspectiva é de redução da liquidez internacional, moderação do fluxo de capitais, principalmente para economias emergentes, e encarecimento dos financiamentos externos.
Nesse contexto, manter o sistema financeiro sólido, bem capitalizado, com elevados níveis de liquidez e de provisionamento e sem vulnerabilidades aparentes, como é o caso do Sistema Financeiro Nacional, é condição essencial para enfrentarmos volatilidades nos mercados internacionais que eventualmente surjam no curso da normalização das condições monetárias de economias avançadas.
O Brasil, com a ação do Banco Central, sabe também lidar com essa volatilidade nessa fase, como o soube na fase de adoção das políticas monetárias não convencionais.
Com o propósito de fortalecer cada vez mais o Sistema Financeiro Nacional,
divulgamos, no início do ano, a regulamentação necessária para a adoção do Acordo de Basileia III. A adoção desse acordo no Brasil inicia-se efetivamente em 1º de outubro de 2013 e segue o cronograma internacional acordado até a conclusão do processo, em 1º de janeiro de 2022.
Basileia III representa a principal resposta regulatória internacional à crise financeira de 2008 e tem por objetivo central fornecer uma base de capital mais robusta para a expansão sustentável do crédito, aumentando a capacidade das instituições financeiras de absorver choques e, com isso, reduzindo o risco de contágio do setor financeiro sobre o setor real da economia. Em última análise, Basileia III visa a auxiliar a manutenção da estabilidade.
É um acordo técnico complexo, mas, no fundo, inspira-se no bom senso: qualquer banco para ser seguro para os seus clientes (famílias e empresas) precisa ter capital, provisões e liquidez suficientes para enfrentar situações de crise sem necessidade de ser resgatado pelo poder público. Para tanto, Basileia III melhora a aferição das exposições a riscos, eleva a quantidade e qualidade do capital, e busca mitigar a pró-ciclicidade e a interconectividade do sistema financeiro.Há muito tempo, o Brasil já dispõe de regulação e supervisão mais rigorosas que a maiorias das economias avançadas, com um quadro prudencial-regulatório, em vários aspectos, já bem próximo das exigências de Basileia III. Nesse contexto, a implantação do Basileia III no Brasil transcorrerá com tranquilidade.
O Sistema Financeiro Nacional como um todo não necessitará de capital adicional para cumprir Basileia III, e a sua adoção no Brasil terá impacto neutro sobre a expansão da oferta do crédito. Pelas nossas estimativas, o capital do Sistema será sempre superior às exigências para um cenário de crescimento e retenção de resultados baseado na média dos últimos anos. E o volume necessário para aqueles que demandarão capital entre 2017 e 2019 é relativamente baixo: cerca de 2% do capital total do Sistema.
A adoção de Basileia III no nosso quadro regulatório contribui para fortalecer a solidez do Sistema Financeiro Nacional, melhorar o nosso custo de captação, além aumentar a possibilidade de expansão internacional dos nossos bancos.
Senhoras e senhores:Basileia III, sem dúvida, representa um marco importante na regulação prudencial internacional. Em 2008, vivenciamos a maior crise financeira dos últimos 70 anos – talvez, a maior da história do sistema financeiro internacional. Basileia III resulta do diagnóstico amplo e minucioso das principais causas da crise financeira de 2008. Produto de profundo debate dos reguladores e supervisores das principais economias mundiais, contou também com a colaboração de acadêmicos e profissionais do sistema financeiro.O Governor Stefan Ingves foi um protagonista do Acordo de Basileia III e, atualmente, exerce o cargo de Presidente do Comitê de Basileia para Supervisão Bancária, a quem tenho a satisfação e a honra de convidar para proferir a palestra principal deste seminário.

Muito obrigado a todos.
Fonte: www.bcb.gov.br.